Mais de mil pessoas morreram em 1986, quando um lago em Camarões liberou uma nuvem de CO2 que sufocou vilarejos inteiros. Um lago muito maior, em Ruanda, com dois milhões de pessoas vivendo perto, também está em risco de erupção.
No começo da manhã, no lago Kivu, entre a fronteira de Ruanda com a República Democrática do Congo, luzes aparecem na superfície. São lanternas de pescadores para atrair arenques (peixes) até seus botes de madeira.
O lago é uma fonte crucial de comida para a população que vive na região. Mas há algo mais embaixo da superfície do lago do que peixes. Algo ao mesmo tempo perigoso e promissor.
Bem no fundo do lago, a cerca de 300 metros, a água do Kivu é repleta de gás dissolvido. Ele contém estimados 256 quilômetros cúbicos de dióxido de carbono e 65 de metano.
“É uma área muito vulcânica e grande pare do CO2 entra no lago pelas rochas vulcânicas do fundo”, comenta o professor da Universidade de Liverpool, Brian Moss. As bactérias do lago então convertem parte do CO2 em metano.
Bebida gasosa
Os gases dissolvidos são mantidos no fundo pela alta pressão. Quanto mais fundo, mais gás pode ser dissolvido.
Entretanto, a saturação de gases está tão alta que se o Kivu for balançado – talvez por uma quantidade muito grande de lava interior ou um terremoto – a água do fundo pode vir a tona e atirar os gases para fora da superfície.
“Pense nisso como uma garrafa de bebida gasosa”, comenta Moss. “O dióxido de carbono foi dissolvido na bebida. Contanto que esteja sob pressão, não borbulha. Mas quando você tira a tampa da garrafa, a pressão diminui e o gás pode sair”.
Cientistas estimam que o lago contém cerca de mil vezes mais gás do que os dois lagos de Camraões, o Monoun e Nyos, que entraram em erupção na década de 80.
Se o crescimento de CO2 já é um problema, também é a presença do metano, que pode explodir quando exposto ao ar.
“O metano não iria espontaneamente causar uma explosão na superfície. Mas existe uma série de fontes de ignição possíveis acima e ao redor do lago”, afirma o professor da Universidade de Minnesota, Robert Hecky. Dados recentes mostram que a concentração de metano no lago está crescendo.
“Nesse momento estamos tirando amostras de sedimentos”, comenta Hecky. “Estamos tentando reconstruir a história do Kivu nos último 10 mil anos. Temos provas de que ele provavelmente passou por erupções no passado. Mas ainda não sabemos a força delas, ou a frequência”.
Sugando gás
Como parte de um esforço para evitar o perigo de uma erupção, o governo de Ruanda tem um plano para sugar a água do fundo e extrair o gás dissolvido.
Um grande barco carregado com equipamentos pode ser a solução. “Embaixo do barco nós temos grandes canos”, afirma Bill Barry, da empresa que desenvolveu o projeto. “Nós vamos ter quatro desses, e eles vão afundar até 350 metros no lago”.
Barry comenta que os gases serão separados da água e entre eles. O metano será canalizado até a costa de Ruanda, onde será usado como fonte de energia.
Já o CO2 será reinjetado no lago, em parte para evitar perigos de liberação de tóxicos e porque só remover o metano já tonar o lago mais seguro. “Remover o metano vai tirar o lago do ponto de saturação”, comenta Barry.
Riscos
Há um grande interesse em Ruanda a respeito do poder de geração de energia desse projeto, conhecido como KivuWatt.
O país tem poucas fontes de energia próprias, o que ajudou a torná-lo um dos países mais caros da África oriental no setor de energia doméstica e empresarial.
Quase metade da eletricidade do país é gerada a partir do diesel, que tem de ser importado. O KivuWatt poderia eventualmente dobrar a quantidade própria de energia.
Mas existem alguns riscos. Consultores ambientais alertaram que se não for cuidadosamente operado, o projeto pode causar uma explosão ou o vazamento de gás no lago.
Há também a possibilidade da água superficial ficar mais ácida ou levar ao crescimento de algas. Isso seria muito ruim para os peixes, e para humanos que dependem dele.
Por isso o projeto vai começar pequeno – apenas uma fase piloto para começar a produzir metano no fim desse ano. Os pescadores do Kivu afirmam que o projeto vai mudar suas vidas, e esperam que seja para o melhor.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário